quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Vou Conseguir, Vou Conseguir

Quando o ponteiro chega na divisa entre a frustração e a estagnação, é sinal que está mais que na hora de parar.

Estou eu novamente fazendo minha terapia com palavras e música.
Sentado numa cadeira plástica num gramado recém-cortado, que ainda cheira à grama cortada, ao lado de uma estrutura que aparenta um dia ter sido um parque infantil. Um pedacinho de paz em meio a 600 funcionários, maquinário pesado e chefes, tudo em prol do sistema.

Mas não é este o motivo da minha quase estagnação. O motivo é a tarefa que estou a realizar já a semanas, senão meses: Mudança de Cultura.

Cara... Como é difícil mudar culturas já entranhadas na sociedade.

Me deram a tarefa de implementar a filosofia 5S + Segurança no laboratório. Claro, a intenção era que eu fizesse o famoso "trabalho para inglês ver", que não passa de guardar entulhar tudo que é útil (o verdadeiro trabalho) em gavetas e armários, polir tudo que é externo / visual, e botar etiquetas e marcações com fita laranja, dizendo que "um vaso é um vaso", "o grampeador fica onde está escrito grampeador", "a mosca só pode pousar no moscoporto definido na mesa", e afins.

Porém, para tristeza da maioria, odeio trabalhar sabendo que estou fazendo errado. Não vou fazer paleativo. Se tem que mudar, então vou mudar, à começar pela cultura, e é exatamente ai que complica.

É preciso muito tato, sensibilidade, empatia, cevar egos, compreensão, democracia, atenção e muita, muita paciência.


O desafio é grande, o desgaste também. E é neste momento que bate a frustração. É quando o desafio parece maior que as capacidades, quando o desgaste mental e físico beiram minha persistência.

"Vou conseguir, vou conseguir"

Venho a repetir isto a semanas. Mas esta funcionando. Longe de acabar, super improdutivo, mas aos poucos vai tomando forma.

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Balanço Patrimonial

Pois é... duas décadas.

Neste ano, diferente dos anos anteriores, parei no dia 15 de fevereiro para pensar o quanto eu alongo e encurto o tempo da forma que eu quero.

Não parecem duas décadas. Ora parece mais, ora parece menos. Depende do que estou pensando, do que estou vivendo.

A faculdade, no que diz respeito às matérias, é um calvário. Mas a faculdade, no que diz respeito ao AeroDesign, foi tão curto, mas tão curto, que me sinto um iniciante experiente.

Empresa? A atual eu gosto tanto que passaram-se 1,25 anos e eu ja me sinto parte daquele lugar. Tenho mesmo vocação para o laboratório de desenvolvimento de produtos. Até trabalhos chatos como organização, implementação de 5S e sucateamento, eu estou conseguindo tornar divertido e razoavelmente produtivo.

Família? Da pra dividir em 3 períodos: 

1. Eu controlado e comportado - Longo período;
2. Eu por minha conta porém ainda comportado - Curto Período;
3. Eu por minha conta e sustentando minhas bases - Período ainda se iniciando.

Este último é saboroso. A tendência é sempre melhorar.

Porém, a escala de tempo que SINTO a solidão (sempre fui sozinho, mas a incidência em termos de sentimento) vem só piorando.

Quanto mais livre fico, mais sozinho fico.

Por outro lado, mais dou valor nos meus amigos. É notavelmente diferente a forma com que me ligo aos amigos da era 2/3 em relação aos amigos de longa data da era 1.

E olha que os amigos da era 1 moram próximos, bem próximos de mim... Mesmo bairro, alguns até mesma rua.

Pros meus amigos, me sinto tentado a agradecer pela amizade... Não tem quem contribua mais ou quem contribua menos, todos são importantes, mas tem quem marque mais minha memória, e quem marque menos. Não vou ser hipócrita e dizer que penso em todos por igual. Não há melhores amigos. Mas há os mais lembrados, mais presentes.

Destino? Propósito? Escolha? 

Sei la. Me parece um fardo que carregamos juntos.

De forma geral, valeu e sempre valerá a pena. Não me vejo retrocedendo ao longo do tempo pra mudar alguma coisa e consigo ver propósito em tudo que fiz e faço até hoje. Estou satisfeito. Acho que está a minha altura.

Seguirei desafiando meus limites, seguirei vivendo a vida.

Valeu a pena não cometer o suicidio, valeu a pena ser o mange, valeu a pena deixar correrem fios salgados e quentes pelos cantos dos olhos, valeu a pena buscar os cacos na pista de pouso de um projeto de 1 ano, valeu a pena.

O balanço patrimonial é sempre positivo. E é isso que mantém a inequação de movimento em movimento. O desequilíbrio. Hoje, de forma mais pontual, o saldo está positivo.

E amanhã? Ah... Amanhã é outro dia.

Uma Área de Outro Mundo #5

Após 3 costumeiros ônibus de viagem, e uma demora um pouco maior, já que a frota de sábado é reduzida, o cidadãozinho chega a frente da empresa.

Ao andar em direção ao portão, ele se depara adivinha com quem??? O guarda! O garoto brochou na hora.

- Bom dia guarda! - Com um sorriso plástico no rosto.
- Que cê qué muleque?? Até no sabado?!?!?! Tu num ta sabendo que estagiário num trabalha no sábado não, ô? O cabeçudo ganha pouco e quer trabalhar mais.
- Ah.... Eh....Qui... Sabe o que é... É que preciso entrar... - Coçando a cabeça.
- Ta pensando que isso aqui é buteco de pinga?? O procedimento é claro, cadê a autorização de entrada do teu chefe? - O guarda fala bem alto.
- Ah.... Eh...Qui... Tô com um negócio inacabado.
- Volta segunda, porra. Sem autorização de entrada tu num entra. - Enfático. - E sai vazado.
- Eh... Mas... mas.... - Sem escolha - Obrigado.

O garoto toma o rumo do ponto de ônibus, ignorando os novos 3 ônibus a tomar. Estava se lembrando de um filme véio... decada de setenta... o famoso "De volta para o futuro 1"...

- Pô... To na maior cilada e to chapando aqui... pensando em repeteco da globo... - Quando momentâneamente...

*Plim*

- É isso!!!

Durante o percurso, o garoto havia se lembrado da caixa, da forma que o guarda havia se comportado com a caixa...

- Pera lá... Se funciona com a caixa, funciona comigo! Como não tenho documento, preciso de uma coisa emergencial bem óbvia, bem na cara.

A idéia do filme parecia caber perfeitamente na medida emergencial. O carro utilizado no filme, o De Lorean, usava uns troços diferentes, com nomes engraçados, tipo: Capacitor de fluxo, GigaWatt, Plutônio, Eixo Temporal e afins.

Rapidamente o garoto da meia volta, e implanta o sorriso plástico no rosto denovo.

- Oi seu guarda! Voltei!
- Que é muleque!!! Mas puta que pariu viu!!! Já não mandei você sumir daqui?
- Sabe o que é seu guarda, eu precisava te falar um negócio... Como está no seu turno...
- O que é muleque??? Fala rápido eim.. Fala e vaza.
- É que eu deixei o capacitor de fluxo ligado fazendo uma conexão eixo temporal com adição de plutônio... E sabe... Isso costuma esquentar...
- Tá. E o quê que eu tenho a ver com isso? - O guarda interrompe.
- É que... Sabe... Sabe ali onde trabalho??? Lá, naquela porta ali - Apontando pra uma porta cinza fechada.
- Tá muleque... Eu ja sei o que é...
- Então... Se começar, por um acaso, a sair uma fumaça preta com faixas avermelhadas e radiando um verde diferente por debaixo da porta, cara.... Chama o bombeiro... Porque o negócio ta pegando fogo, e vai explodir. - Com expressão satisfeita - Valeu eim!

O garoto mal vira as costas e ouve:

- EI EI EI muleque!!! Peraí porra!
- Que que foi? Vô embora... - Com voz simples.
- Volta aqui porra! - Quase aos berros.
- Sim sim, pois não? - Tranquilo... Suave.
- Aê muleque. Que negócio é esse de sair explodindo as coisas no meu turno?? Esse negócio de sair explodindo é sério??? O que eu vou falar pro meu chefe??? Tá maluco?!?!?! Vo chamar bombeiro porra nenhuma! Vai la desligar essa merda desse pôbrema ai.
- Pô maiii.... Hoje é sabado... Vô pra casa...
- Aí muleque, quero nem saber o que tu vai fazer... Vai entrar e vai resolver isso logo. Não me faz sair aí fora eim!
- Bom... Ja que você está pedindo... Eu vo entrar... Nóis somo amigão... - Todo cordial
- Para de falar e entra logo. - Encerrando a conversa.
- Ta bão.


Porra. Entrei. - O garoto surpreso.



***Continua no próximo horário de almoço***


(Sendo escrito por Nelson e Amigo)


Os escritores afirmam: Qualquer semelhança com os fatos cotidianos, caracteriza mera coincidência. Os autores não se responsabilizam por qualquer similaridade a fatos reais.

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

O Novo Já Nasce Velho

O filme é sempre o mesmo.

Eu assisto, solitário, sentado em frente ao mundo, sempre as mesmas coisas.

Pessoas mudam de cabelo, mudam de roupa, hoje em dia mudam até a fisionomia. Mas uma coisa não mudam: A arte de repetir erros.

Erramos (agora notando que o sofá em que me sento está dentro do mundo que assisto) sempre nos mesmos pontos, talvez agora com um lacinho diferente, ou um nome mais pomposo, mas é tudo a mesma coisa, como um filme que repete, repete, repete.

Me ocorre agora o eterno retorno, de Nietzsche. É quase inevitável se colocar na posição do Senhor do Tempo. A experiência me põe frente aos "desafios" do mundo com maior comodismo, maior poder de coação.

Coação? sAIUhsAUIisaoiouaSHi  Que isso! Coação que nada... Quem sou eu para coagir o "destino" de cada um, de cada coisa? Não controlo os eventos, lógico que não. Mas isto não me impede de prever o próximo passo.

Prever?? Outra palavra errada. A palavra certa é Sentir! Com o tempo, aprendi a sentir o futuro, sentir o que antes me parecia anuveado e que agora me parece trivial.

Enfim. Mais um ciclo começa, mais um ciclo termina. O eterno retorno se estabelece.

E o Senhor do Tempo volta ao seu cômodo sofá de pensamentos, para assistir com todo o entusiasmo (falso) que puder o museu de grandes novidades.

Só desta vez, me poupe do blá blá blá.

domingo, 13 de fevereiro de 2011

Eu Vejo Você

É mais que te ver.


É saber, é sentir, é gostar, é respeitar.

Ultrapassa qualquer santidade, qualquer divinidade, religião ou crença.
É te ter como a mim mesmo, é te reconhecer como parte de um único ser.

A morte não é triste, não é feliz, não existe, na verdade. É apenas uma mudança, uma etapa, onde toda a energia que lhe foi emprestada volta a fonte.

Mas agora renovada, agora experiente, agora vivenciada. Volta com cores, estilos e sabores. É energia, é a forma essencial de vida, mas agora possui geometria.

Pronta pra assumir novas experiências, novas vibrações? Talvez. Não costumo ficar pensando muito nisso... Não cabe a mim, né.


Como escolhe? Simples. Basta ser escolhido.
Mas como vou saber se me escolheu? Simples, ele vai tentar te matar.

Te matar de amores, te matar de dores, te matar de rir, te matar de sorrir, te matar de paixão, te matar do coração.

Vai te arrancar pedaços, vai te cegar, vai te imobilizar, vai te silenciar.

Mas pra conseguir ser morto, é preciso brigar por isso. Vais ter que mostrar que vale a pena, vai ter que ser o melhor dos melhores, vai ter que ser o top de todos os quesitos.

Estranho, né. É preciso ser o melhor para tentarem te matar.

Mas não basta eu te ver. Você precisa me ver também.

É por isso que, Eu Vejo Você.

sábado, 5 de fevereiro de 2011

Trabalho de Escola de Antigamente

O professor escreve no quadro:

- Pesquisa sobre o corpo humano. Dividir em "Cabeça, Corpo e Membros". 2 páginas para cada divisão. Folhas de papel almaço. Grupos de 3.

O burburinho começa quase que instantaneamente.

- Carol!!! Vamos fazer eu, você, a Cris e o Lucas??? - Grita o menino Rubens do outro lado da sala. - Eu compro as folhas!!!

Carol se lembra que Cris, sua melhor amiga, era tão pobre quanto ela, e que seria uma guerra pra elas conseguirem meia dúzia de folhas almaço com seus pais.

- Tá bom. - Carol aceita.

Na manhã seguinte, um sábado, Rubens grita no portão:

- Carol!!! Eu trouxe as folhas!!!

Saem então Carol, Rubens e Cris (que ja tinha dormido na casa de Carol) em direção a biblioteca publica.

Era tudo bem familiar. O caminho, as placas de "Silêncio", o cheio de mofo, a velhinha com óculos de fundo de garrafa...

- Moça? - Carol sussurrou - Tenho que fazer um trabalho sobre o corpo humano.
- Ta bom, peraí minha filha.

A velhinha se move lentamente até sumir em meio as longas prateleiras atrás dela. Minutos depois ela volta com uma pilha de livros até seu torto nariz.

- Olha filha, procura nesse aqui, se não achar, procura nesse outro, se não achar, tenta nos de baixo. Se mesmo assim não achar você volta aqui que te dou mais.

Carol, ja acostumada, pega a pilha de livros e vai em direção a velha mesinha redonda, onde seus colegas a aguardavam.

Começa então a longa busca por alguma coisa util naqueles livros velhos. Folhas amarelas, capas saindo, livros sem índice, as vezes sem página, bem fácil.

3 horas depois e a hora do almoço ja se aproximava.

- Eu tenho que ir buscar o meu irmãozinho... - Rubens começou - Minha mãe mandou eu dar comida a ele...

- SHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHhhhhhhhhhhhhhhhhhhiu... - Fez a velhinha, por trás do balcão, apontando com o indicador enrugado para a placa escrito "Silêncio".

- Tenho que ir, depois do almoço eu volto. - Abaixou a voz, quase inaudível.

- Ta bom. - Sussurraram as garotas.

Elas ja sabiam que ele não voltaria. Não era a primeira vez que ele fazia isso.

Pegaram o pouco que o garoto havia escrito sobre cabeça, e prosseguiram.

Já próximo das 4 da tarde, Carol termina a sua parte e também a de Rubens. Cris percebeu, e rapidamente disparou.

- Você vai me esperar né? - Falou docemente.
- Aham - Respondeu, lamentando a lentidão de sua amiga.

6 da tarde. Cris termina. Começam as duas a enfeitar o trabalho com estrelinhas, corações, florzinhas... Afinal, precisavam de nota.

Na hora de escrever os nomes na capa, se lembram do colega que pouco fizera. Contra a vontade, escrevem o nome completo do garoto...

- Ele que comprou as folhas, né... - Cris fala olhando para Carol.

- SHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHhhhhhhhhhhhhhiu. - A velha chia fazendo cara feia.

- Ja estamos indo embora. Obrigado! - Sussurra a Carol se fazendo agradecida, entregando os livros. - Tchau!

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

(Amor) Doentio

Ele é diferente.

O amor não é beleza, o amor não é sentimento, o amor não é capacidade.

É não medir esforços, não escolher ferramentas.
É andar de mãos dadas como se nada nem ninguém pudesse separar.
É zelar pela existência do outro como quem zela pela própria.
É querer tomar para si todas as dores do outro.
É se importar com cada segundo decorrido do outro, tornando seu também.
É ser vazio quando se está longe, mesmo sabendo as inúmeras importâncias de sua existência.
É ser superherói quando está junto.
É não conseguir bater no outro, nem com uma rosa.
É ter de gladiar com leões para magoar o outro com uma verdade.
É cegueira, é loucura, é tristeza, é beleza, é alegria, é euforia, é embriaguez, é lucidez.

Como pode algo tão divino, tão primeiro, tão importante, poder ser confundido com centenas de outras tolices? Como podem as pessoas maltratar tanto umas as outras? Como pode o amor ter sido modernizado.

Eu ainda me orgulho de amar. Mesmo que isso doa MUITO, mesmo que isso me machuque MUITO.

Hoje me perguntaram se eu ainda me arriscaria amar alguém, mesmo assistindo mais uma separação, mais uma briga por herança, mais uma briga entre pai e mãe.

Agente sempre acha que só acontece no vizinho... Que nunca acontece com agente.

A resposta foi: Não sei. Amar pra mim é quase inevitável. No momento estou ocupado morrendo de amor.